Os novos passos da Pastoral da Criança sem Zilda Arns
Entidade preserva o legado da sua líder e planeja consolidar a atuação de novas unidades fora do Brasil
Artigo Paulo Justus
O trágico terremoto que abalou o Haiti em 12 de janeiro encerrou a vida, mas não a obra de Zilda Arns. A fundadora e principal líder da Pastoral da Criança morreu na missão de expandir a atuação da entidade, algo a que se dedicava nos últimos três anos. O desafio dos líderes e voluntários agora é fortalecer a Pastoral nos países em que já está presente enquanto procura preencher o vazio deixado pela perda de Zilda.
Coincidentemente, o 12 de janeiro marcou também uma pequena vitória da Pastoral da Criança. Nesse dia a entidade finalmente conseguiu abrir sua conta corrente no exterior, algo que estava na pauta de intenções desde o final de 2008. "Agora temos uma facilidade administrativa maior, por outro lado perdemos a doutora Zilda, que tinha muita credibilidade perante a Igreja e organismos internacionais", diz Nelson Arns, filho de Zilda e atual coordenador internacional da Pastoral.
Presente em 4 mil municípios a Pastoral da Criança já está consolidada no Brasil. Internacionalmente, a entidade está em 19 países, um trabalho que começou por meio de visitas esporádicas de missionários interessados em 1998 e ganhou mais força a partir de 2008, quando Zilda deixou a coordenação da Pastoral Nacional para se dedicar à internacionalização.
Após o trabalho de expansão levado a cabo por Zilda, a Pastoral pretende agora concentrar as atenções nos países em que já está estabelecida, como Paraguai, Peru, Guatemala, Angola e Timor Leste. "Claro que também vamos dar atenção ao Haiti. Lá a estratégia é entrar no país por meio da República Dominicana, onde a pastoral já está consolidada", diz.
Segundo Nelson Arns, essa já era a estratégia mesmo antes do falecimento de Zilda, mas não era seguida à risca pela líder. "A doutora Zilda sempre quis a consolidação, mas não conseguia resistir à oportunidade de entrar em novos países. Era uma característica sua", diz.
Mesmo tendo deixado a coordenação nacional da Pastoral da Criança no fim de 2007, Zilda Arns também tinha um papel atuante nos assuntos internos da entidade. "Era muito solicitada para dar palestras e estar a serviço da Pastoral da Criança em nível federal", diz a irmã Vera Alto, que desde 2008 assumiu o posto de coordenadora nacional da Pastoral.
Como parte dessa subdivisão, o gestor de Relações Institucionais da Pastoral da Criança, Clóvis Boufleur, assumiu a cadeira da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no Conselho Nacional de Saúde. Assumi essa função política que a doutora Zilda ocupou por 20 anos, diz.
O desafio interno da pastoral agora é elevar a cobertura do atendimento, que caiu de 2008 para 2009, em face do êxodo rural, redução da natalidade e migrações internas. Nesse período, o número de famílias atendidas, por exemplo, caiu de 1, 35 milhão para 1, 26 milhão. Numa das últimas palestras, a doutora Zilda disse que seu coração estava irrequieto porque a Pastoral estava atendendo apenas 20% das crianças pobres do Brasil, diz Vera.
O legado de Zilda Arns, no entanto, serve de exemplo para as mais de 230 mil voluntárias.
Desde que ela morreu muitas pessoas ligaram perguntando onde podem ser úteis. O exemplo da vida dela, divulgado depois da tragédia levou o nome da Pastoral para fora e também dentro do Brasil, diz Vera.
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Pouco antes de morrer, a fundadora da Pastoral estava como coração "irrequieto" porque a
entidade estava atendendo "apenas"20% das crianças pobres do Brasil
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ATENDIDOS
1. 256. 079 foi o número de famílias atendidas pela Pastoral da Criança em 2009. Em 2008, a entidade acompanhou 1, 36 milhão de famílias no país.
GESTANTES
84. 617 mulheres grávidas foram acompanhadas em 2009. Elas receberam orientações sobre alimentação, exames básicos e também sobre seus direitos.
CRIANÇAS DE 0 A 6 ANOS
1. 598. 804 crianças carentes foram seguidas pelas líderes da pastoral no ano passado. Elas procuram melhorar as condições de alimentação, educação e ambiente familiar.
MUNICÍPIOS
4. 000 cidades estão no escopo de atuação da Pastoral da Criança no Brasil.
Internacionalmente, a entidade está presente em 19 países.
LÍDERES EM AÇÃO
130. 658 voluntários trabalham na Pastoral. Em média, uma líder devota 12 horas de trabalho por semana fazendo visitas às casas de crianças carentes.