Conselho Regional de Farmácia

De Mato Grosso do Sul

Aumento do número de queimadas em áreas próximas às cidades pode causar vários problemas respiratórios 

O Estado de Mato Grosso do Sul possui características climáticas favoráveis a propagação de incêndios florestais e no bioma pantanal, principalmente nos períodos de menos chuva e aumento dos ventos.

Com as mudanças climáticas e também a chegada do período de estiagem, o número de queimadas tem aumentado em todo o Estado. 

Militares do Exército Brasileiro tem atuado em conjunto com o Corpo de Bombeiros no combate aos incêndios no Pantanal de Mato Grosso do Sul. As queimadas, que começaram mais cedo neste ano, saltaram mais de 1100% no bioma em comparação com 2023. Devido ao grande número dos focos de incêndio uma densa nuvem de fumaça tem atingido uma extensa região do município de Corumbá e Ladário.

O Comando Militar do Oeste (CMO) disponibilizou militares da 18° Brigada de Infantaria de Pantanal para atuar com o Corpo de Bombeiros no controle de focos de incêndio nas proximidades do Forte Coimbra em Corumbá. O Corpo de Bombeiros possui nessa região duas guarnições que atuam monitorando e combatendo focos de incêndio em dois locais diferentes. Além dos militares em solo, a aeronave Air Tractor ajuda no reconhecimento dos focos e no combate as chamas pelo ar.

De acordo com o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa-UFRJ), até maio deste ano, 332 mil hectares do bioma foram consumidos pelas chamas. O Pantanal tem 16 milhões de hectares. A extensão destruída entre janeiro e maio superou em 39% o registrado no mesmo período de 2020, o pior ano da série histórica até então. Desde janeiro de 2024, uma área duas vezes maior que o tamanho da cidade de São Paulo já queimou no Pantanal, conforme o Lasa-UFRJ.

A fumaça advinda das queimadas do Pantanal encobriu Corumbá neste domingo (23/06). A cidade que tem enfrentado altas temperaturas (35 a 36°C), umidade relativa do ar baixa (abaixo de 30%), enfrenta o desafio extra, a presença de fumaça e fuligem na zona urbana. Fuligem, dificuldade de respirar são alguns dos problemas enfrentados por quem reside no município.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), apontam que 84% dos focos de queimadas estão concentrados na Cidade Branca e Ladário. Segundo noticiado pelo Correio do Estado, até o dia 21 de junho eram 170 focos estão concentrados nesta região. Além da dificuldade enfrentada pelas queimadas, que superou o pior índice registrado em 2021, a fumaça tem ocasionado problemas respiratórios, fuligem que chega a cobrir veículos mesmo na garagem de residência e obriga os moradores a ficarem trancados em casa com janelas fechadas e panos embaixo das portas.

No dia 19 de junho, o Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (CEMTEC), alertou que em decorrência das queimadas do Pantanal, nove municípios do estado foram impactados pela fumaça.

Confira os municípios afetados:

  1. Porto Murtinho;
  2. Caracol;
  3. Miranda;
  4. Bodoquena;
  5. Bonito;
  6. Jardim;
  7. Nioaque;
  8. Aquidauana;
  9. Corumbá.

Operação Pantanal

A Operação Pantanal foi deflagrada em abril deste ano e está em seu 73º dia de ação no combate às chamas no bioma. Só no mês de junho, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já registrou mais de 733 focos de queimadas no Pantanal. É o maior número de queimadas para o mês de junho desde o começo do monitoramento, em 1998. Ao todo, 96 militares estão envolvidos na operação, sendo 83 bombeiros militares do comando de operações e guarnições de combate, 3 bombeiros que operam a aeronave Air Tractor e 10 militares do Exército Brasileiro atuam na operação em conjunto.

Doenças respiratórias causadas pela fumaça

De acordo com pneumologistas consultados, os incêndios decorrentes da prática na agricultura e da queima de lixo doméstico e industrial geram uma fumaça tóxica que prejudica a saúde das pessoas. A fumaça está repleta de partículas minúsculas, como sulfatos, nitratos, amônia, cloreto de sódio, fuligem e monóxido de carbono, chamados de material particulado que é fração inalável da fumaça. Essa fumaça tóxica, quando atinge as pessoas, causa vários sintomas, a depender do tipo de material contido na fumaça, da quantidade e tempo de exposição. Com a inalação, surgem vários sintomas. Inicialmente, as pessoas podem apresentar garganta seca, tosse, rouquidão, olhos vermelhos e dor de cabeça, devido a irritação na região de naso-orofaringe acometendo garganta, olhos e narinas, alergias na pele e sintomas respiratórios mais graves como tosse persistente e falta de ar. Quando são inaladas grandes quantidades de fumaça, ela atinge a parte inferior do sistema respiratório, no caso, os alvéolos pulmonares, prejudicando as trocas gasosas e dificultando o oxigênio a chegar aos tecidos. A partir daí podem surgir dores de cabeça, sonolência, náuseas, confusão mental, podendo evoluir nos casos mais graves para o coma e morte, alerta os pneumologistas.

O material particulado presente na fumaça tóxica pode continuar agindo por longa data no organismo, principalmente quando há exposição crônica ou continuada. Essa exposição, no decorrer do tempo, pode causar alguns tipos de câncer, como de pulmão e leucemia, além de doenças respiratórias, como enfisema, asma e outras.

A inalação da fumaça proveniente de queimadas orgânicas, de materiais orgânicos e não tóxicos, pode infeccionar as vias respiratórias e causar doenças até nas pessoas que não têm problemas respiratórios. Pode agravar a situação de quem já sofre de problemas respiratórios, vindo a precisar, além de medicamentos, até de internação, UTI e levar à morte em casos mais graves.

Sintomas imediatos: irritação dos olhos, vermelhidão da mucosa, conjuntivite química, lacrimejamento e diminuição da visibilidade. Também podem ocorrer: obstrução nasal, coriza e até sangramento nasal. Tosse seca e irritativa, rouquidão, laringite, rinite, falta de ar e cansaço, bem como chiado no peito podem aparecer. Portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica ou outras doenças pulmonares podem vir a desenvolver complicações.

A população deve ficar atenta aos sintomas e, caso necessário, procurar as unidades de saúde e hospitais mais próximos de sua residência.

Alertas e orientações dos especialistas

Os pneumologistas também orientam que, se houver fumaça nos arredores, as pessoas devem usar máscaras de proteção e não descuidar da hidratação. É importante beber bastante água, evitar os ambientes externos atingidos pela fumaça, usar protetor solar e, sobretudo, combater a prática de queimadas, que desencadeiam vários prejuízos à saúde e ao meio ambiente.

Crianças, gestantes, idosos, pessoas com comorbidades como hipertensão e diabetes, mais de modo especial, os portadores de doenças respiratórias como asma e enfisema que já sofrem de problemas respiratórios são os mais vulneráveis à exposição e quanto expostos à fumaça das queimadas podem apresentar sintomas mais intensos e complicações respiratórias, necessitando de internação hospitalar.

Orientações e cuidados farmacêuticos

Em razão dos sintomas e complicações mais comuns da exposição a fumaças, o farmacêutico pode indicar cuidados simples como recomendar ingestão de muito liquido, o uso de máscaras nas atividades ao ar livre, lavar as narinas e olhos com soro fisiológico, recomendar uso de colírios lubrificantes oculares e claro evitar exposição em locais ou ambientes com fumaça.

Medidas de prevenção aos incêndios

Alguns cuidados são evitar jogar bitucas de cigarro as margens das rodovias. Vidros e latas de alumínio descartadas no meio ambiente também podem favorecer surgimento de focos de incêndios nas matas e áreas rurais.

De acordo com o Corpo de Bombeiros é possível prevenir os incêndios e as queimadas com medidas simples, como jogar água ou terra no local, após finalizar uma fogueira, por exemplo é uma recomendação usual, mas nessa época do ano, a orientação é suspender todas as atividades que envolvem fogueira ou queimadas, ainda que controladas.  Manter fósforos, velas e isqueiros fora do alcance de crianças também é uma precaução fundamental.

Recomenda-se evitar atear fogo em resíduos (lixo), ou em matas para limpeza de terrenos, pois qualquer fagulha pode se alastrar e tornar a situação sem controle.

A emissão de novas licenças para queimadas controladas foi suspensa no início de abril deste ano, quando o governo de Mato Grosso do Sul decretou estado de emergência climática no estado. Porém, autorizações antecedentes a esta publicação ainda tinham prazo de validade vigente. Agora, todas as queimas controladas já autorizadas estão suspensas pelo prazo de 180 dias. 

Os graves riscos ambientais referentes à perda de controle do fogo em decorrência das condições climáticas extremas vinculadas à combinação de fatores indicativos da combinação de temperaturas acima de 30 ºC, ventos acima de 30 km/h de velocidade e umidade relativa do ar abaixo de 30%.

Fonte: Assessoria Técnica CRF-MS