Conselho Regional de Farmácia

De Mato Grosso do Sul

Artigo: Quero ser cápsula

A cápsula é a mais versátil de todas as formas farmacêuticas sólidas. Quando comparamos cápsulas e comprimidos de liberação imediata, geralmente as cápsulas apresentam um lag time muito menor, atingem níveis plasmáticos mais elevados e proporcionam uma absorção rápida e efetiva, comparável às vezes a soluções ou suspensões dos fármacos. Além disso, quando o médico prescreve um medicamento manipulado em cápsulas, ele tem a liberdade de associar princípios-ativos que não estão disponíveis na forma industrializada, pode modificar a dose, pode separar princípios-ativos (por exemplo, medicamentos com princípios-ativos que só existem associados na forma industrializada). O médico também pode fazer um ajuste de dose mais efetivo, reduzindo efeitos colaterais e melhorando a qualidade de vida dos pacientes. Nas farmácias magistrais, a cápsula é a forma farmacêutica sólida mais aviada e dispensada e, dependendo da localidade, a cápsula responde por mais de 50% do faturamento da empresa. Por todos estes motivos, é imprescindível manipular cápsulas que atendam a todos os requisitos farmacêuticos e atendam às exigências da legislação. Atenção farmacêutica Diferente da época do ressurgimento das farmácias magistrais, as cápsulas atuais possuem inúmeras exigências que devem ser atendidas para garantir a qualidade e a efetividade do tratamento. Quando o farmacêutico manipula uma cápsula, o primeiro requisito a ser avaliado é a prescrição, verificando aspectos relativos a dosagem, compatibilidade, interações e outros aspectos farmacoterapêuticos. é imprescindível que uma formulação somente seja liberada para a manipulação quando todos estes problemas estiverem resolvidos. Frequentemente, quando dou consultoria para farmácias, encontro casos em que a formulação foi liberada para manipulação sem a completa verificação, e o pepino acaba aparecendo justamente no momento de manipular, quando o horário de entrega já foi definido. Na maioria das vezes é difícil resolver o problema de uma hora para outra e o farmacêutico acaba tendo que se justificar com pacientes e médicos. Superado o primeiro desafio, devemos nos preparar para o processo de manipulação em si. O próximo desafio é, talvez, o que mais tem preocupado as farmácias atualmente: a escolha do excipiente. Escolhendo o excipiente Quando pensamos em um excipiente, devemos considerar que o mesmo deva cumprir 03 requisitos fundamentais: permitir uma correta liberação, proporcionar uma cápsula com uniformidade de peso e teor e garantir a estabilidade da preparação durante todo o prazo de validade. Atualmente, as farmácias têm se utilizado do Sistema de Classificação Biofarmacêutico para a escolha do excipiente para as cápsulas manipuladas. Apesar de o sistema poder servir como uma orientação, o mesmo não foi criado para este fim, e apresenta limitações importantes. Uma delas, por exemplo, é como compatibilizar – com um só excipiente – dois fármacos que apresentam classificação biofarmacêutica diferente. Além disso, vários fármacos não possuem classificação biofarmacêutica definida, tornando impraticável o uso do Sistema orientação na elaboração da cápsula. Outro aspecto importante é a homogeneidade de peso e teor. Para que isso seja alcançado, o farmacêutico deve conhecer também as propriedades farmacêuticas dos pós, tais como o fluxo, o ângulo de repouso, a densidade aparente e a granulometria, entre outras. Mais uma vez, o Sistema de Classificação Biofarmacêutico não contempla este tipo de critério. Por fim, o aspecto da estabilidade também deve ser considerado. Apesar de as cápsulas serem formas isentas de água durante o processo de manipulação, a estabilidade dos fármacos e da forma farmacêutica pode ser afetada, caso não se escolha o excipiente adequado. O Sistema de Classificação Biofarmacêutico não contempla estes aspectos. Portanto, o Sistema de Classificação Biofarmacêutico é uma ferramenta importante, mas não pode ser determinante da escola do excipiente e nem sequer será o único fator a ser considerado. Não podemos transformar uma ferramenta criada para o estabelecimento de correlações in-vivo|in-vitro em nosso único critério de escolha para os excipientes. Manipulando Normalmente o processo de manipulação se dá pela técnica de nivelamento de superfície. Neste processo, o pó é colocado nas cápsulas usando uma espátula, sendo então espalhado até que o pó esteja homogeneamente distribuído em todas as cápsulas. Fatores como o treinamento do manipulador, a correta determinação da densidade aparente dos pós, o fluxo e a aderência influem marcadamente neste processo. De todos estes fatores, a densidade aparente é o que suscita mas dúvidas: devemos compactar o pó ou não, quantas batidas devemos dar para a compactação e se há necessidade de compactar ou não o pó quando as cápsulas estiverem niveladas. Finalizando e controlando Uma vez finalizadas, as cápsulas devem ser acondicionadas e ter sua qualidade controlada. O acondicionamento é crítico para diversas cápsulas que contenham materiais higroscópicos, sensíveis à luz, ao ar e à luz. Outro aspecto importante também é a uniformidade de peso e teor. O primeiro ponto a ser compreendido é que a uniformidade de peso não está diretamente relacionada com a uniformidade de teor, ou seja, uma vez garantido o peso médio nada garante que o teor ficará dentro dos limites aceitáveis. Outro ponto crítico é que as farmácias muitas vezes fazem apenas a determinação do peso médio, mas se esquecem de avaliar a precisão ou erro relativo das cápsulas. O erro relativo é fundamental para sabermos se a cápsula em questão foi corretamente manipulada, ou seja, se ela contém a quantidade de pó que deveria conter; este parâmetro pode ser indicativo de possíveis erros no processo de pesagem, enchimento e determinação da densidade aparente. Crescendo saudável A manipulação de cápsulas em farmácias atingiu níveis impressionantes ao longo dos anos. Todo este crescimento sempre foi marcado por grandes exigências das agências reguladoras e os farmacêuticos tem superado todos eles. Para que possamos continuar crescendo de forma saudável, precisamos estar preparados para os desafios atuais, nos mantendo atualizados e mantendo nossos funcionários em constante treinamento. Na sociedade da informação, conhecimento é a alma do negócio.