Botox é testado para emagrecer, largar fumo e melhorar próstata
No campo da urologia, estudos recentes com botox vêm alcançando bons resultados para o tratamento de pacientes com hiperplasia prostática (aumento benigno do órgão que pode causar dificuldade para urinar) que não respondem bem à medicação ou que apresentam efeitos colaterais importantes.
"Após a injeção, aplicada na próstata, há um alívio nos sintomas. Os pacientes passaram a urinar com jato mais forte e houve um esvaziamento correto da bexiga, sem necessitar um esforço extra", afirma o pesquisador José Carlos Truzzi, urologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Segundo ele, a ação da toxina não se restringe, nesse caso, ao relaxamento da musculatura. Ela também induz a morte programada das células da próstata, o que provoca diminuição do volume do órgão.
"Os resultados foram muito favoráveis. Pode ser assumida como prática clínica nos próximos anos para aqueles pacientes que tomam medicamento e não têm boa resposta ou apresentam efeitos colaterais, uma situação bastante frequente."
Ainda não se sabe o intervalo ideal entre aplicações, mas o urologista acredita que seja superior a um ano devido a esse duplo efeito.
Em estágio mais inicial, outras pesquisas avaliam a aplicação da toxina contra a cistite intersticial, uma inflamação da bexiga de origem desconhecida que provoca dor quando o órgão se enche.
Segundo Truzzi, os tratamentos existentes não são efetivos e a toxina pode se tornar uma alternativa. "Por enquanto, os estudos são incipientes e envolvem grupos pequenos de pacientes", diz.
Na área de dermatologia, o botox também vai além das aplicações estéticas: já aprovado para quem tem suor excessivo nas mãos e nas axilas, ele está sendo testado para algumas cicatrizes de acne. "O tratamento é para poucos casos. Só dá certo quando a cicatriz melhora com o relaxamento da musculatura da região. Tem que ser muito bem indicado", alerta Emerson Lima, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Obesidade e fumo
Uma descoberta que teve o dedo do acaso deve atrair as atenções nos próximos anos. Depois de aplicar a toxina na região da boca para diminuir a presença de rugas, a dermatologista Érica Monteiro, colaboradora da Unifesp, começou a ouvir reclamações inusitadas. "As pessoas que eram fumantes se queixavam de que não conseguiam mais fumar direito. Foi um efeito colateral do tratamento", conta.
A dermatologista sugeriu a toxina, então, aos pacientes que gostariam de largar o vício, mas encontravam dificuldade.
Das 12 pessoas que receberam a toxina, três pararam de fumar e nove reduziram em 80% o número de cigarros. "Elas têm dificuldade de fazer o movimento para fumar, de falar algumas letras e de tomar líquidos de canudinho. A maioria fica com aspecto normal, mas em alguns houve também uma modificação do sorriso", afirma a médica.
O estudo será publicado em janeiro na "Revista Brasileira de Medicina", o primeiro passo para possibilitar pesquisas com grupos maiores de fumantes.
Outro estudo brasileiro, em estado muito inicial, vai testar o botox para pessoas que querem emagrecer. Nesse caso, a toxina será injetada, por via endoscópica, no estômago.
"O postulado é retardar o esvaziamento do estômago. Como ele se esvazia com mais lentidão, a pessoa consegue ter saciedade se alimentando com um volume menor de comida", explica Aloísio Cardoso Júnior, gastroenterologista do Hospital das Clínicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), onde está sendo desenvolvido o trabalho.
Uma pesquisa preliminar feita pelo grupo foi uma das primeiras do mundo a atestar que o procedimento é seguro. "Mas foram poucos pacientes, nem sabemos qual é a dose ideal. Nos estudos com animais, a toxina foi eficaz para o emagrecimento, mas não temos conclusões definitivas relativas ao efeito no ser humano", diz.