Câmara atende pedido do CRF/MS e realiza audiência pública sobre alheios
A venda de produtos alheios à saúde em farmácias e drogarias é um assunto polêmico e ainda divide opiniões. Durante audiência pública, realizada na Câmara Municipal de Campo Grande a pedido do CRF/MS, diretores da entidade demonstraram os problemas que se escondem por trás da comodidade de encontrar ração animal, carvão, biscoitos e refrigerantes em meio a medicamentos.
Pontos de vistas favoráveis e contrários serão encaminhados à apreciação dos vereadores para que a situação volte a ser discutida. O presidente da Comissão de Saúde, Jamal Salém, se dispôs a dar os encaminhamentos necessários na Casa para que o impasse seja resolvido, entretanto, ressaltou que as medidas a ser adotadas terão enfoque na saúde pública.
“O farmacêutico não tem espaço para fazer atendimento e as gôndolas estão cheias de alheios”, disse o presidente do CRF/MS, Ronaldo Abrão. Ele apresentou pesquisas as quais apontam que as vendas destas mercadorias em farmácias e drogarias pouco rendem lucro aos proprietários de farmácias e, por este motivo, funcionam como “chamarizes” para a compra de medicamentos, situação que favorece a automedicação.
Representante da Associação Comercial, Geraldo Leite, alegou que as farmácias e drogarias comercializam produtos relacionados à saúde, como leite. “Até o chocolate tem relação com a saúde”, disse. “O chocolate é um produto que não pode ser consumido por pessoas diabéticas e celíacas, por exemplo, que precisam entrar frequentemente nos estabelecimentos” rebateu o presidente do CRF/MS.
“Não falta ‘Anador’ em casa”, revelou o vereador Vanderlei Cabeludo, um dos parlamentares que defende a venda de alheios. Durante a audiência, ele confirmou justamente o resultado da pesquisa apresentada pelo presidente do CRF/MS, Ronaldo Abrão: que 80% das pessoas que entram em farmácias e drogarias para comprar um cartão levam outro produto, inclusive medicamentos.
“A declaração do vereador é prova mais do que suficiente para reforçar o alerta à população porque este simples medicamento, cujo princípio ativo é a dipirona, está proibido em muitos países pelo fato de causar depressão da medula óssea. O assunto precisa ser melhor esclarecido aos vereadores, que por desconhecimento, interpretam apenas a comodidade e não percebem os riscos”, destacou Abrão.
“Não me sinto bem em chegar a uma farmácia e tropeçar em carvão e ração animal”, disse o vereador Loester Nunes. Ele ressaltou que os estabelecimentos devem vender medicamentos e que “a situação não pode ficar como está”. Loester Nunes propõe que medidas sejam adotadas antes que o problema se torne mais grave.
Como representante do Sinprofarms (Sindicato dos Proprietários de Farmácia), Nelson Fraide, reclamou das altas cargas tributárias que recaem sobre os empresários do setor e afirmou que retirar produtos alheios à saúde das farmácias e drogarias seria retrocesso.
O presidente da Câmara, vereador Paulo Siufi Neto, rebateu todos os argumentos favoráveis à venda de alimentos, carvão e ração nos estabelecimentos. Ele destacou ainda que, para discutir problemas comerciais, os donos de farmácias e drogarias precisavam procurar a Comissão de Comércio da Casa, já que o debate deveria ser voltado à saúde.
“Nossa preocupação não é com a venda, estamos preocupados com a vida”, disse o vereador. Ele enfatizou ainda que na prática, muitas pessoas entram na farmácia para comprar um sorvete, levam um medicamento e, desta maneira, promovem a automedicação.
Quando a discussão foi aberta ao público, o advogado Eduardo de Paula de Souza pediu a palavra e disse que, enquanto consumidor, procura dois tipos de farmácias: uma para quando precisa comprar ração para seus animais e outra nas situações em que necessita de atendimento.
Ele afirmou que nos estabelecimentos onde avia receitas para uso próprio observa “higiene e seriedade”. Para o advogado, farmácias e drogarias deveriam retirar as gôndolas e criar espaços para fracionar medicamentos, projeto que foi aprovado e não é colocado em prática, segundo Souza.