Chuvas e alagamentos: como evitar a disseminação de doenças
As intensas chuvas que assolam o Brasil têm provocado alagamentos, enchentes e deslizamentos, principalmente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Especialistas consideram que os episódios ocorridos nos últimos dias já constituem a maior tragédia climática da história do país. Nesse momento, a preocupação em ajudar os necessitados deve se somar aos cuidados sanitários para evitar prejuízos ainda maiores à saúde das vítimas.
O trabalho da vigilância sanitária, especialmente nas instâncias municipal e estadual, é extremamente importante nesse contexto: é preciso cuidar de aspectos básicos, como a garantia de água potável e alimentos aos desabrigados.
Mas a atuação da vigilância sanitária vai além: passa pela triagem das doações de alimentos, medicamentos e produtos para limpeza, pelo monitoramento dos ambientes que recebem os desabrigados, pela orientação à população e pela prevenção de acidentes com os trabalhadores que atuam no salvamento e na remoção de escombros e sujeira.
Perigo invisível
é preciso evitar que as crianças nadem e brinquem na água que fica represada nas ruas e casas. A inocente brincadeira esconde perigos: microrganismos, como bactérias, fezes de animais, lixo e até resíduos do esgoto podem ser levados pela água por quilômetros afora, podendo causar náuseas, vômitos, febre e doenças.
Como a urina de ratos se mistura à água, um dos grandes perigos é a transmissão da leptospirose, alerta a diretora da Anvisa, Maria Cecília Brito.
Doações
Outra questão que merece preocupação é o recebimento de doações. O monitoramento da organização, da triagem e do armazenamento é mais uma tarefa para a vigilância sanitária. Os alimentos, por exemplo, precisam ser mantidos longe da água, da umidade, do sol e de produtos para limpeza. Devem ainda ser armazenados em prateleiras distantes do solo.
Nos primeiros momentos que se seguem a essas tragédias, é importante privilegiar a doação de alimentos industrializados, já prontos para o consumo.
Geralmente falta água potável e a estrutura básica para preparar os alimentos, inviabilizando a doação daquilo que precisa ser manipulado ou preparado, lembra Maria Cecília Brito.
Embora pouco lembrada na hora das doações, a água mineral costuma ser, justamente, um dos itens mais necessários: enquanto sobra água nas casas e ruas, falta água nos reservatórios e poços artesianos, que ficam tomados por lama e sujeiras de todo o tipo.
Outro problema está relacionado aos medicamentos: doar medicamentos com o prazo de validade vencido pode causar mais prejuízos que benefícios às vítimas. E, mesmo dentro da validade, esses medicamentos, quando doados pela população, podem representar riscos se não forem garantidas boas condições de armazenamento.
Não se sabe a que temperatura o medicamento doado ficou exposto, se houve contato com umidade, nem como ele foi transportado e acondicionado. Todos esses fatores podem interferir na eficácia e na segurança de uso, alerta a gerente de Tecnologia Farmacêutica da Anvisa, Mônica da Luz Soares.
Veja como se prevenir de doenças nessas situações:
Estudos de laboratório indicam que uma concentração acima de 1000 nmp por 100 mls (mililitros) já demonstra que a água está imprópria. A medida nmp é a estimativa de coliformes fecais numa amostra. Durante os alagamentos e enchentes, as amostras de bactérias podem chegar a até 2 milhões de nmp por 100 mls.
Outro problema importante, embora pouco divulgado, são os acidentes com animais peçonhentos. Com medo da água, cobras e escorpiões procuram abrigo e assim buscam locais secos dentro das casas, podendo atingir os moradores.
Veja abaixo dicas de como se prevenir durante e após a ocorrência de alagamentos e inundações:
• Os moradores das áreas atingidas devem evitar, quando possível, o contato com a lama, pois ela pode estar contaminada com dejetos de animais, e outros causadores de doenças. A urina dos ratos, presente em esgotos e bueiros, mistura-se à enxurrada e à lama das enchentes. As pessoas que tiverem contato com água ou lama contaminadas podem se infectar. A bactéria Leptospira interrogans penetra no corpo pela pele, principalmente se houver algum ferimento ou arranhão. Por isso, é necessário o uso de luvas, botas ou mesmo sacos plásticos como proteção.
• Entre em contato com a rede de abastecimento público caso a água de torneira da sua residência apresente coloração ou odor estranho.
• Em residências atingidas pelas enchentes, se a água for proveniente de outras fontes, é recomendado fervê-la ou tratá-la com hipoclorito de sódio a 2,5% (adicionar 02 gotas para cada litro d’água). Depois da mistura, é preciso esperar 30 minutos antes de bebê-la.
• Também é importante limpar e desinfetar os reservatórios de água, mesmo quando não atingidos pela enchente, já que a rede de fornecimento de água pode apresentar vazamentos e contaminar os reservatórios.
• Para outras informações sobre o procedimento de limpeza e desinfecção da caixa d’água, procure a Vigilância Sanitária do seu município.
• Quando as águas abaixarem e as casas forem desinterditadas pela Defesa Civil, será preciso retomar os cuidados com a prevenção da dengue: secar a água, jogar no lixo os objetos que possam acumular água, lavar semanalmente com escova e sabão os tanques usados para armazenar água.
• Os alimentos que entraram em contato com a água da enchente não devem ser consumidos, mesmo que estejam em embalagem plástica fechada.
• Nos casos de falta de energia, os alimentos que estavam refrigerados ou congelados, mesmo que não tenham entrado em contato com a água da chuva, não devem ser consumidos se apresentarem alteração de cor, cheiro ou consistência.
• Em caso de dúvidas, procure a vigilância sanitária ou a defesa civil do seu município.