Entenda de maneira simples: projeto que prevê medicamentos em supermercados pode provocar uma epidemia de intoxicação na população.
Está em discussão no Congresso Nacional, em Brasília, um projeto de lei que pretende autorizar a venda de medicamentos em supermercados. A pauta é tema de debates e é muito criticada pelos Conselhos de Farmácia e pelos farmacêuticos brasileiros.
Precisamos entender e fazer uma reflexão. O acesso da população aos medicamentos sem que tenhamos o atendimento, a supervisão e o acompanhamento do profissional farmacêutico, é um desserviço a toda sociedade, representa um risco à vida e à saúde pública, podendo causar um colapso na saúde dos brasileiros devido à uma avalanche de casos agudos de intoxicação e de interação medicamentosa indesejável (induzida ou incentivada) pela automedicação, além de outros prejuízos incalculáveis.
Após anos de muita discussão, temos atualmente no Brasil leis que asseguram e garantem o acesso adequado e seguro aos medicamentos, sejam eles tarjados ou de venda livre, de maneira responsável, que passa obrigatoriamente pelo acesso à orientação e aos cuidados prestados pelos farmacêuticos. As farmácias e drogarias, por exemplo, deixaram de ser lojas e conveniências para se tornar um verdadeiro “Estabelecimento de Saúde”, onde contam com a presença do Farmacêutico durante todo o horário de funcionamento prestando a assistência farmacêutica integral. Isso porque a autoridade em medicamentos é uma atribuição exclusiva e indelegável do profissional Farmacêutico.
Enquanto a Organização Mundial de Saúde preconiza 1 farmácia para cada 10 mil habitantes, o Brasil possui 1 farmácia para cada 1,6 mil habitantes. Além disso, nosso país tem impostos sobre medicamentos 6 vezes maior que a média mundial e somos um dos campeões mundiais em intoxicação por medicamentos.
O projeto de lei que está em discussão no Congresso Nacional precisa ser editado urgentemente para o bem da população. O Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso do Sul (CRF-MS) entende tecnicamente que existem no Brasil diversos cases de sucesso que comprovam que a população pode adquirir o medicamento dentro ou nas proximidades dos supermercados.
É muito simples entender: os supermercados podem ter um estabelecimento de saúde em espaço adequado dentro ou fora em sala anexa, ou seja, a farmácia pode ficar instalada em um espaço reservado, sob a presença e supervisão do farmacêutico, garantindo a atenção farmacêutica durante todo o expediente e atendendo a todas as legislações vigentes que incluem as normativas estabelecidas pelas prefeituras, conselhos de farmácia, Anvisa, vigilâncias sanitárias e outros órgãos que atuam para proteger a população e garantir a atuação dos farmacêuticos em benefício da própria população.
Diversas redes de supermercados já adotaram essa prática. Esses supermercados implantaram uma farmácia e drogaria própria ou o condomínio comercial (local onde ficam os supermercados e demais lojas) conta com um estabelecimento de saúde que atua dentro da lei e garante a presença do farmacêutico atendendo a população.
Entenderam como é simples! O que não pode ocorrer é o abastecimento de medicamentos nas prateleiras e gôndolas de supermercado, ficando de fácil acesso a população. A compra de medicamento não é como a compra de alimentos para o lar, pois medicamento é coisa séria e a dosagem acompanhada e orientada pelo farmacêutico faz toda a diferença.
Medicamentos nas prateleiras de supermercados, por isso, além de absurdo e um crime contra a saúde pública, pois todo medicamento apresenta riscos, mesmo os que não precisam de receita médica, e por isso, a população precisa ter disponível o atendimento do profissional farmacêutico.
Vimos nos últimos dias que os medicamentos isentos de prescrição (aqueles que não precisam de receita médica) poderiam estar nas prateleiras de supermercados. Isso é um absurdo e um crime contra a saúde pública, pois o fato do medicamento não ser adquirido com receita não quer dizer que a população não precisa do atendimento e do acompanhamento do farmacêutico. Se for olhar por esse lado não precisamos de atendimentos de saúde, pois poderíamos consultar nossos sintomas na internet? Outro absurdo. O atendimento e o acompanhamento do profissional de saúde são essenciais para a saúde da população.
Se querem aproximar a população dos medicamentos, que tenham planejamento, sensibilidade e amor ao próximo, pois medicamento é coisa séria. Sigam as regras vigentes, abram uma farmácia e drogaria em um espaço reservado para ser “Estabelecimento de Saúde” e tenham farmacêuticos durante todo o horário de funcionamento. Desta maneira vamos conseguir avançar no atendimento da população, pois as adversidades da saúde não são poucas e temos que avançar na qualidade do atendimento e da saúde e não retroceder colocando as pessoas em risco.
Para concluir, é preciso que membros de entidades sanitárias, deputados federais, senadores, deputados estaduais e vereadores façam uma reflexão: se a saúde pública oferecida no Brasil atualmente encontra diversas dificuldades para atender a população, imaginem vocês como ficaremos se a população começar a se automedicar. Teremos uma epidemia de intoxicação no Brasil como nunca se viu na história.