Europa quer desenvolver mercado de medicamentos genéricos
A Europa intensifica sua luta contra os laboratórios farmacêuticos suspeitos de frear a chegada de versões genéricas, mais baratas, de seus medicamentos mais importantes, visando desta vez a britânica AstraZeneca e a suíça Nycomed.
A AstraZeneca denunciou na última sexta-feira ser alvo de uma investigação, por parte das autoridades europeias da concorrência, relacionada ao Nexium, principal tratamento para dores ligadas a úlceras e refluxos gastrointestinais. Este era seu medicamento mais vendido até o ano passado e ainda gerou um volume de negócios no valor de US$ 3,7 bilhões de dólares nos primeiros nove meses deste ano. "Fomos objeto de buscas por autoridades da concorrência que estão ligadas a suspeitas de práticas de dumping envolvendo o esomeprazol", princípio ativo do Nexium, declarou uma porta-voz, garantindo que a AstraZeneca cooperava plenamente com a investigação.
Duas fábricas na Alemanha do laboratório suíço Nycomed foram também examinados, por razões "ligadas" às visitas na AstraZeneca, informou uma fonte próxima ao caso da Dow Jones Newswires.
A Comissão Europeia anunciou por sua vez buscas em "um número limitado de empresas", sem precisar quais foram as analisadas. Ela disse ter "razões para acreditar que as empresas envolvidas podem ter agido, individualmente ou conjuntamente, principalmente para retardar a entrada no mercado de versões genéricas de um medicamento em particular".
Os genéricos são expressivamente mais baratos do que os medicamentos de marca e possuem os mesmos princípios ativos. Eles podem ser colocados no mercado a partir da expiração das patentes de exclusividade sobre uma molécula, mas um atraso de alguns meses significa milhões de euros de receita para o laboratório e custos adicionais para os pacientes e os sistemas de saúde.
A AstraZeneca já foi condenada em 2005 por Bruxelas por ter abusado de procedimentos administrativos com a finalidade de atrasar a chegada do genérico de seu antiúlcera famoso na época, o Losec. A multa, inicialmente de 60 milhões de euros, foi reduzida para 52,5 milhões de euros após um recurso ante a justiça europeia. Bruxelas afirmou na época ter se mostrado clemente já que a infração era "novidade".
O montante de multas infligidas pela guardiã da concorrência na Europa nesse meio tempo aumentou exponencialmente. Elas podem atingir 10% do volume de negócios de uma empresa. Bruxelas está de olho na indústria farmacêutica.