Exame do cérebro aponta melhor droga para tratar depressão
Pesquisadores da Universidade da Califórnia identificaram um possível biomarcador que é capaz de mostrar, depois de uma semana, se determinada droga antidepressiva apresenta resultados no paciente. Atualmente, quase 50% dos doentes não apresentam resposta satisfatória ao primeiro medicamento prescrito.
Além disso, os médicos demoram de quatro a seis semanas para identificar que determinado remédio não surtiu efeito -o que atrasa o tratamento, pois a avaliação clínica dos resultados só é realizada após esse período. Por causa disso, muitos pacientes abandonam o tratamento.
Outro fator de demora na identificação do melhor tratamento é a quantidade de drogas disponíveis. Hoje, são comercializados cerca de 30 compostos diferentes de antidepressivos, o que dificulta a escolha.
Estima-se que 17% da população adulta vá enfrentar um episódio de depressão pelo menos uma vez na vida. Encontrar um biomarcador de resposta ao tratamento é o principal objetivo dos psiquiatras.
Segundo os pesquisadores, a avaliação de qual medicamento vai funcionar em determinado paciente seria possível através da realização de um eletroencefalograma quantitativo (mapeamento da atividade cerebral) antes e depois do início do uso da medicação. Trata-se de um exame não-invasivo, realizado em cerca de 15 minutos.
Para chegar aos resultados, publicados na "Psychiatry Research", os cientistas avaliaram 375 pacientes diagnosticados com depressão. Os voluntários fizeram o eletro antes de iniciar o tratamento, para os pesquisadores avaliarem o padrão das ondas cerebrais, e repetiram o exame uma semana depois.
No segundo exame, os pesquisadores observaram mudanças nos padrões das ondas cerebrais em comparação com o eletro de base e identificaram um biomarcador chamado de índice de resposta ao tratamento antidepressivo (ATR).
Depois de 49 dias, os cientistas perceberam que podiam prever se os voluntários estavam mais propensos a responder a um antidepressivo diferente, pois encontraram 74% de exatidão nas previsões.
"Os resultados são um marco em nossos esforços para desenvolver biomarcadores clinicamente úteis", disse Andrew Leuchter, autor do estudo.
Para o psiquiatra Ricardo Moreno, coordenador do Programa de Transtornos Afetivos do Instituto de Psiquiatria da USP, os resultados são interessantes, mas ainda precisam ser replicados em outros centros.
"Encontrar biomarcadores de resposta é o sonho de todos os centros de pesquisa do mundo. Se esses resultados forem comprovados, trarão um benefício muito grande para os pacientes", avalia Moreno.
A mesma opinião tem o psiquiatra Marco Antônio Brasil, do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Psiquiatria. "O tempo de espera para saber se um remédio está fazendo efeito é muito grande e desgastante para o paciente. No futuro, esse recurso poderá ser uma boa alternativa", diz.
Brasil, no entanto, faz uma ponderação. Para ele, mesmo que outros estudos internacionais comprovem a eficácia do método, será difícil realizar esse tipo de exame em toda a população com depressão.
"Falando em saúde pública, o eletro é um exame que custa caro para ser feito e repetido em uma semana. Acho que ele será uma boa alternativa para aqueles pacientes que já tentaram de tudo e continuam com a depressão persistente", avalia.
O psiquiatra Marcos Pacheco Ferraz, professor da Unifesp, diz que os resultados estão longe de serem aplicados na prática clínica porque da forma como foram apresentados, em 26% dos casos, não é possível indicar o melhor medicamento com exatidão. "Não ter resultado eficaz em um quarto dos casos é um problema. Além disso, acho impossível fazer o exame em todos os doentes", diz.