Conselho Regional de Farmácia

De Mato Grosso do Sul

Paracetamol pode reduzir efeito de vacina infantil, diz agência europeia

Em seu relatório sobre a vacina Synflorix --adotada pelo Brasil para imunização gratuita de crianças contra o pneumococo--, o Emea (European Medicines Agency, responsável pela regulação de medicamentos na Europa) coloca em dúvida a eficácia do produto frente à administração de paracetamol --um dos dois antifebris mais utilizados em crianças pequenas, ao lado do ibuprofeno. "A administração profiláctica de antipiréticos antes ou imediatamente após a administração da vacina pode diminuir a incidência e a intensidade das reações febris após a vacinação. Contudo, dados sugerem que a utilização do paracetamol pode diminuir a resposta imunitária a Synflorix. A relevância clínica desta observação, bem como o impacto de outros antipiréticos para além do paracetamol na resposta imunitária ao Synflorix, permanece desconhecida", registra a entidade, que liberou a vacina para introdução no mercado europeu em março deste ano. É prática comum, muitas vezes por recomendação médica, a administração do medicamento pelas mães antes de levar a criança ao posto de saúde ou à clínica para a vacinação. Comparações O Emea também comparou diretamente a ação da Synflorix (produzida pela GSK) e da Prevenar 7-valente (da Wyeth) contra DPI (doença pneumocócica invasiva, que inclui sepse --infecção generalizada, meningite, pneumonia invasiva, e bacteriemia --infecção do sangue). Segundo a agência, de um modo geral, as concentrações de anticorpos após a primeira imunização "conferidas por Synflorix contra os sete sorotipos [variedades do pneumococo] comuns foram inferiores às conferidas por Prevenar 7-valente". As concentrações antes da dose de reforço "(8 a 12 meses após a última dose da primovacinação) foram no geral idênticas para as duas vacinas". Após a dose de reforço, as concentrações "conferidas por Synflorix foram inferiores para a maioria dos sorotipos comuns com Prevenar 7- valente". Mais especificamente, o órgão europeu aponta que dois dos três novos sorotipos da vacina da GSK (não presentes na Prevenar 7-valente) tiveram "resposta imunitária funcional inferior em magnitude à resposta contra todos os outros sorotipos da vacina" e que "desconhece-se se esta resposta [...] irá resultar numa eficácia protetora inferior". Sobre dois outros sorotipos presentes em ambas as vacinas, a agência europeia afirma ter sido demonstrada "inferioridade da resposta imunológica a Synflorix medida por Elisa [teste de detecção de anticorpos]" e que "não se conhece a relevância clínica destas diferenças". A administração da vacina em pacientes de alto risco também carece de estudos, indica a agência. "Não está disponível informação de segurança e de imunogenicidade em crianças com risco aumentado para infecções por pneumococos (drepanocitose, disfunção esplênica congênita ou adquirida, infecção por HIV, doença maligna, síndrome nefrótica)", assinala. Otávio Cintra, gerente médico de vacinas da GSK, afirma que os dados dos novos sorotipos foram analisados em relação a uma média geral de resposta, já que não havia base comparativa, e que há estudos em andamento sobre a aplicação em crianças com quadro imunodepressivo. Sobre a administração do paracetamol, declara que ainda não se sabe a relevância dessa interferência. "Basta simplesmente evitar o uso desnecessário [do paracetamol], em que não há indicação formal", declara Cintra.