Pesquisa explica como analgésico também pode atacar depressão
Pesquisadores nos EUA acabam de mostrar como um analgésico, a cetamina, também produz um efeito antidepressivo bem mais potente do que os remédios contra depressão disponíveis hoje. A chave para o impressionante efeito da cetamina é a ação sobre um fator do cérebro que ajuda os neurônios a sobreviverem e formarem conexões entre si, consolidando memórias, por exemplo. Detalhes do estudo estão em artigo na revista científica "Nature".
Lisa Monteggia e seus colegas da Universidade do Texas em Dallas avaliaram o potencial antidepressivo do remédio contra a dor em camundongos. Já havia indícios de que, quando injetada, a cetamina é capaz de aliviar os sintomas de uma depressão forte -e isso em questão de apenas duas horas, com efeitos durando cerca de duas semanas.
Os antidepressivos tradicionais, por outro lado, podem demorar semanas para fazer efeito. Casos críticos, em que há risco de suicídio do paciente, poderiam se beneficiar muito de uma ação mais rápida do remédio.
ROEDOR TRISTE
Para comprovar esse efeito e entender como a droga atua, os cientistas ministraram cetamina a modelos animais de depressão --basicamente roedores cujo comportamento reproduz aspectos importantes da doença. Injeções do remédio tiveram efeito antidepressivo após 30 minutos nos animais.
Mas camundongos geneticamente modificados para não produzir o BDNF, o fator cerebral que atua como "salva-vidas" de neurônios, não se beneficiaram, indicando que esse fator é o alvo do medicamento no cérebro.
Para os cientistas, a descoberta reforça a possibilidade de utilizar esse mecanismo em futuros antidepressivos de ação mais rápida. O princípio é mais importante do que a substância, já que a cetamina em si pode ter efeitos colaterais indesejáveis.