População não está atenta aos riscos da automedicação, veja o vídeo
O Conselho Federal criou um medicamento fictício e o distribuiu na avenida Paulista (SP), para mais de 4 mil pessoas. Menos de 1% perguntou sobre contraindicação
Nos últimos cinco anos, o Brasil registrou quase 60 mil internações por intoxicação medicamentosa, segundo dados do Ministério da Saúde. Em Mato Grosso do Sul, o ano passado fechou com 430 casos de intoxicação. Destes dados, 159 pacientes foram intoxicados por acidente individual.
Apesar da frequência dos casos, a população demonstra não estar atenta aos riscos da automedicação. Foi o que constatou o Conselho Federal de Farmácia - CFF em uma ação promovida em São Paulo, no dia 18 de dezembro. O Conselho produziu um medicamento fictício e o distribuiu a mais de 4 mil pessoas, na esquina das avenidas Paulista e Consolação, um dos pontos mais movimentados da capital paulista. Veja aqui o vídeo.
Os resultados foram surpreendentes. “A maioria aceitou passivamente o ‘produto’, sem nada perguntar. Quase ninguém (0,35%) quis saber quem era o fabricante. Menos de 1% perguntou se o suposto medicamento tinha alguma contraindicação”, comenta o presidente do CFF, Walter Jorge João. “O maior porcentual de pessoas que questionou alguma coisa sobre o suposto medicamento, quis saber qual era sua indicação (14,96%), o que revela certo interesse pela sua utilização posterior.”
Casos - As intoxicações propositais ou acidentais representam apenas um dos problemas causados pela automedicação. O industriário Ney Borges Vasquez, 52 anos, morador de Goiânia (GO), quase ficou paraplégico por causa de um descongestionante nasal. Quando tinha 19 anos, sofria com rinite alérgica e começou a usar o produto. “Minha mãe usava, era bom, então aderi. Mas ela usava esporadicamente. Eu passei a fazer uso contínuo.” Ney Vasquez conta que passou dez anos usando. Só então descobriu o mal que isso lhe fez.
“Um dia, na chácara, estava cuidando de uns porcos no quintal e um deles avançou em mim. Fui correr, caí e o animal me deu uma cabeçada nas costas. Chamaram o resgate e fui para o hospital. Havia fraturado uma das vértebras e trincado o osso sacro. Por pouco não fiquei paraplégico.” Um exame de densitometria óssea revelou que apesar de ter apenas 29 anos, Ney Vasquez tinha idade óssea de um senhor de 80 anos. Segundo os médicos, a descalcificação intensa foi causada pelo uso contínuo do corticoide contido no descongestionante nasal. “Tive de fazer um tratamento de reposição e até hoje tomo uma injeção por ano de cálcio.”
Riscos da automedicação, conforme Organização Mundial de Saúde:
a) Autodiagnóstico incorreto;
b) Não procurar prontamente orientação médica adequada;
c) Escolher incorretamente a terapêutica;
d) Apresentar eventos adversos raros, mas graves;
e) Não reconhecer ou não autodiagnosticar contraindicações, interações, alertas e precauções;
f) Não reconhecer que uma mesma substância ativa já foi utilizada sob um nome diferente (produtos com diferentes marcas de fantasia podem ter o mesmo princípio ativo);
g) Não informar o autotratamento atual ao médico prescritor (risco de duplo tratamento ou interação prejudicial);
h) Não reconhecer ou não notificar reações adversas farmacológicas;
i) Escolher incorretamente a via ou modo de administração;
j) Utilizar doses excessivas ou inadequadas;
k) Ocorrência de dependência ou abuso;
l) Alterações no desempenho laboral ou no esporte;
m) Ocorrência de interações fármaco-alimento;
n) Estocar medicamentos em condições inadequadas ou além do prazo de validade recomendado para o produto.