Conselho Regional de Farmácia

De Mato Grosso do Sul

Ranking mostra laboratórios com preocupação social

Trinta anos atrás, as indústrias farmacêuticas se fechavam em seus casulos, ditando seus preços e suas linhas de pesquisa. Do mundo aqui fora, só interessavam as doenças que poderiam dar retorno mais rápido e os mercados consumidores que pudessem pagar melhor pelas suas drogas. No máximo, anunciavam atos de caridade diante de catástrofes epidêmicas que se repetem nos países mais pobres. Divulgação Projeto Viva a Cultura!, desenvolvido pela AstraZeneca, em Curitiba Não é mais assim. Os laboratórios hoje estão conscientes da responsabilidade que têm diante da decadência sanitária de certas regiões do mundo e trocam a política de donativos por uma estratégia específica de relações sociais com o resto do mundo. Isso se tornou importante para quem tem ações negociadas nas bolsas de valores. Várias instituições internacionais estão de olho na ação dos laboratórios, vistos como dos mais lucrativos e diretamente responsável pela saúde das populações. Em julho último, a fundação holandesa Access to Medicine, em parceria com o Innovest, um órgão especializado nesse tipo de estudo, lançou uma detalhada publicação com o ranking dos laboratórios que mais se preocupam com as populações, especialmente as mais pobres. A fundação levou em consideração oito critérios, começando por uma política de preços diferenciada de acordo com o poder aquisitivo dos países e populações consumidoras; suspensão provisória das patentes; acordos de licença sem royalties com fabricantes de genéricos; pesquisas de doenças tropicais negligenciadas; subvenções a organizações não-governamentais e a associações humanitárias. A fundação tomou como base as ações dos laboratórios no seu âmbito global, sem diferenciar a atuação por países. Em primeiro lugar aparece o laboratório britânico Glaxo Smith Kline, seguido do dinamarquês Novo Nordisk e da Merck. No rol dos dez primeiros ainda estão o Novartis, Sanofi-Aventis, AstraZeneca, Roche, Johnson e Johnson, Bayer e Eli Lilly. Consultados no Brasil, independentemente de constarem ou não do ranking da organização Access to Medicine, os laboratórios ouvidos informaram suas atividades e preocupações sociais. No geral, há uma mudança significativa. Quase todos estão hoje entre as melhores empresas para se trabalhar no país e vários se destacam como locais para as mulheres atuarem. A Roche Brasil destinou R$ 210 milhões em 2007 aos programas sociais, entre eles o Vizinho Legal, criado em 2001 e focado na melhoria da qualidade de vida das comunidades do entorno da empresa, na zona oeste de São Paulo. Cerca de 800 pessoas são atendidas. O laboratório ltambém doou ao governo brasileiro os direitos e a tecnologia de fabricação do Rochagan (Benzonidazol), medicamento para o Mal de Chagas. A Eli Lilly destaca seu Programa MDR-TB (drogas para o tratamento da tuberculose resistente), considerado um dos grandes desafios atuais, já que a não adesão do paciente pode levar a quadros irreversíveis. A educação, portanto, é tão importante quanto a medicação. Implementado em diversas regiões do mundo, o programa inclui África, Ásia e América do Sul, e foi reconhecido como modelo pela Organização Mundial da Saúde. A MSD, a Merck Sharp e Dohme, informa que em 2007 investiu US$ 5 bilhões em áreas críticas da medicina, incluindo tuberculose, malária, diarréia, câncer cervical e Aids. A empresa também destaca o fato de oferecer produtos contra a Aids a um preço sem lucro. "Em julho de 2008, 82% dos pacientes ao redor do mundo utilizavam nossos medicamentos (para Aids) a preço de custo. O dinamarquês Novo Nordisk, com uma fábrica de insulina em Montes Claros (MG), destaca sua estratégia global para melhorar a acessibilidade. A intenção é facilitar o acesso e disponibilizar informações para grupos específicos da população. Já a Genzyme, firmou parceria com a estatal Fiocruz para pesquisar drogas de combate a doenças negligenciadas, como a leishmaniose, a malária e a Doença de Chagas. A Genzyme é conhecida pelas suas pesquisas e produção de drogas para doenças do erro inato do metabolismo, enfermidades raras e de tratamento caro só bancados por governos. A Glaxo Smith Kline, com sede no Reino Unido, destaca os investimentos em pesquisa, com 15 mil pessoa envolvidas, e as parcerias de suas descobertas em muitos países do mundo. Hoje, 25% do mercado de vacinas está com o laboratório, uma meta que pretende ampliar. Ocupando o primeiro lugar no ranking da fundação Access to Medicine, a GSK cita no Brasil programas como o Atitude Positiva, voltado à prevenção das DSTs e Aids e a educação para a sexualidade nas escolas municipais do Rio de Janeiro. Também é parceira de ONGs como a a Sociedade Viva Cazuza e mantém um compromisso ambiental nas regiões onde estão instaladas suas fábricas. O laboratório AstraZeneca destaca a importância da promoção ética para assegurar que os profissionais de saúde recebam informações necessárias e que os pacientes tenham acesso aos medicamentos adequados.