Somente em julho, 14 pessoas tiveram queimaduras graves com álcool
Em julho, o setor de queimados da Santa Casa de Campo Grande atendeu 14 pacientes graves. Já o mês de maio
foi ainda pior, 18 pessoas deram entrada no local, das quais 11 sofreram acidente com álcool líqüido.
Para o fiscal da Vigilância Sanitária Estadual, Adam Macedo Adami, o número não reflete a realidade porque nem sequer contabiliza pessoas que tiveram ferimentos leves e procuraram atendimento em outras unidades de saúde.
Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul, Corpo de Bombeiros, Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, Sociedade Sul-Mato-Grossense de Pediatria e Cirurgia Plástica, representantes das Secretarias Estadual e Municipal de Saúde e Conselhos Estadual e Municipal de Saúde fizeram em 16 de julho uma manifestação para acabar com a venda de álcool líqüido. Os profissionais foram à Praça Ary Coelho para sensibilizar a população acerca do risco que o produto oferece.
Segundo a SBQ (Sociedade Brasileira de Queimados), o custo do tratamento de um paciente queimado chega a R$ 1.500,00 por dia, em leito comum. Já nos casos em que há necessidade de inernação em UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), o valor pode ser de R$ 3.000,00.
“Isso sem mencionar a longa e dolorosa hospitalização, sem contar a retirada de pele morta "debridações" e a dor insuportável dos curativos porque é comum as trocas de curativos serem precedidas de anestesia. As infecções secundárias e hospitalares são as complicações mais comuns e frequentemente são necessárias a realização de muitas cirurgias de enxerto e de correção plásticas”, completa Adami.
Nos seis meses em que a o álcool líqüido foi proibido, o uso do álcool gel causou a diminuição nas estatísticas de atendimento nos hospitais. Pesquisa da SBQ, divulgada em janeiro de 2003, comprovou que o número de acidentes por álcool no país teve redução de 65%.
Representantes de produtores de álcool argumentam que os consumidores não gostam da forma em gel. Entretanto, para o presidente da SBQ, Edmar Maciel Lima Júnior, é preciso desmistificar o uso do álcool líquido para a limpeza.
“O único álcool com total função bactericida e desinfecção registrado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tem a sua graduação entre 68º e 72º INPM. Existem outros produtos mais eficazes para atender a essas necessidades”, reforça.
A cidade de São Paulo tem um projeto de lei que obriga o registro do acidente com álcool, considerado um acidente de consumo, que atualmente não é registrado pelos sistemas de saúde. O texto da proposta foi apresentado por Adami ao presidente da Câmara de Vereadores, Paulo Siufi Neto, que se comprometeu a apresentá-lo como projeto de lei.