Universidade estuda vacina para combater os efeitos causados pela Aids
A UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) desenvolve uma vacina que combate os efeitos causados pela aids e, consequentemente, pode dispensar o uso do coquetel de medicamentos usados para controlar a reprodução do vírus nas pessoas infectadas. A vacina, segundo os pesquisadores, não é preventiva, mas sim, terapêutica, com o objetivo de aumentar a defesa imunológica e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
O trabalho de pesquisa, segundo o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, é o de maior destaque no país. Os trabalhos foram feitos no Lika (Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami) da UFPE e começaram em 2003, quando foi montada a infraestrutura para fazer a aplicação da vacina nos pacientes.
De acordo com o diretor do Lika, José Luiz Lima Filho, foram escolhidos 19 pacientes que estavam em uma fase clinicamente estável, em que a aids ainda não estava evoluída. Foram retiradas células de defesa do organismo e o vírus de cada um. No laboratório, o vírus é manipulado e colocado em contato com as células, chamadas dentríticas, do sistema imunológico para que estas ataquem o HIV. Em seguida, essas células de defesa do organismo são devolvidas ao paciente para que haja uma reorientação na defesa do organismo.
O professor José Luiz esclareceu que o trabalho de manipulação do vírus no laboratório é necessário para avaliar se a vacina é tóxica ou não para cada portador do vírus HIV e, também, para que o organismo reconheça a célula injetada. Os pacientes receberam três doses da vacina em 2004, cada aplicação em um mês. Nos meses seguintes, os pacientes receberam acompanhamento para avaliar o quadro clínico.
“Observamos que, em alguns pacientes, a resposta não foi boa e eles tiveram que retomar a utilização do coquetel. Já em 5 pacientes, o resultado foi bastante positivo. A carga viral que circula no organismo diminuiu consideravelmente, melhorando o quadro clínico geral desses pacientes, como o ganho de peso e mais disposição para o trabalho”, esclareceu José Luiz Filho.
De acordo com o professor José Luiz, os estudos vão se concentrar em entender o que alterou no sistema imunológico de cada paciente para que ocorressem esses diferentes resultados. Ele explicou que, a partir dessa análise nas moléculas dos voluntários, que deve iniciar este mês, vai ser possível saber se a vacina poderá ser reaplicada e porque nem todos os pacientes diminuíram a quantidade de vírus e dispensaram o uso do coquetel.
“Vamos fazer coletas de sangue para observarmos as taxas e estudar a parte molecular. Provavelmente não vamos explicar tudo porque essa pesquisa é bastante complexa, mas vamos obter algumas respostas do que está acontecendo no organismo dos pacientes”, afirmou José Luiz. Segundo ele, os resultados da avaliação devem ser divulgados em março do próximo ano.
Mais investimentos
Os pesquisadores da UFPE querem mais investimentos para ampliar a pesquisa e fazer o teste da vacina em mais pacientes. Segundo o Lika, os recursos devem ser definidos assim que os resultados da avaliação molecular forem apresentados para que haja mais segurança nos rumos dos estudos. Ele informou, ainda, que os voluntários serão selecionados através de uma triagem feita nos hospitais do Recife.
Testes realizados pela USP
Cientistas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) também estão desenvolvendo uma vacina contra o HIV, o vírus da Aids, baseados em um plano só testado no Brasil. De aproximadamente 200 conceitos de imunizantes anti-HIV imaginados ao longo de 25 anos de luta contra a doença, o desenho da HIVBr18 é o único que mira “regiões conservadas” do vírus – trechos que não passam por mutações. Com a identificação desses alvos fixos, o imunizante brasileiro pode chegar a ser mais eficaz do que os quase 30 que passam atualmente pelo crivo dos ensaios clínicos.
O problema, como sempre, é dinheiro para seguir o ritual obrigatório de checagens. Iniciado em 2002, o projeto consumiu R$ 1,2 milhão e agora precisa de US$ 600 mil só para fazer um tira-teima com macacos-resos na Universidade de Wisconsin – não há centros de primatologia no Brasil capacitados para assumir essa etapa. O degrau é pré-requisito para a necessária – e custosa – sequência de ensaios clínicos, os testes humanos propriamente ditos. São três fases, divididas basicamente pelo número de voluntários participantes. Para que se tenha uma ideia, são necessários US$ 50 milhões a US$ 150 milhões para tocar uma fase 3.
Estatísticas
Conforme o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, em 2006, a estimativa é que 630.000 brasileiros estavam infectados pelo vírus HIV. Mais 33.689 casos surgiram no ano seguinte. De 1980 a junho de 2007, mais de 205 mil pessoas morreram vítimas de aids no Brasil. Os dados do Ministério da Saúde mostram também que a incidência de casos entre homens e mulheres vem modificando. Em 1986, eram 15 casos em homens para um em mulher, mas, em 2007, eram 15 casos em homens para 10 casos em mulheres.