Conselho Regional de Farmácia

De Mato Grosso do Sul

Uso de droga para fim não aprovado é alvo de alerta

Uma lista com medicamentos que demandariam "estudos urgentes" para validar seu uso em indicações diferentes das aprovadas pelas agências reguladoras - prática conhecida como uso off-label - foi proposta ontem por pesquisadores americanos de três universidades de Chicago. O levantamento foi financiado pela Agência Americana para Pesquisa e Qualidade em Serviços de Saúde (AHRQ, na sigla em inglês) e será publicado em dezembro na revista Pharmacotherapy. O principal critério para a formação do ranking foi a extensão do uso não-aprovado dos medicamentos. Desde a realização da pesquisa até a sua divulgação ontem, alguns usos off-label receberam aprovação. Cerca de 75% dos remédios listados são usados em tratamentos psiquiátricos. O professor titular do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo) Wagner Gattaz explica que as drogas que atuam no cérebro costumam impactar o organismo de muitas formas diferentes, daí surgirem tantos usos off-label. Ele aponta o progresso das pesquisas como principal responsável pelo descompasso entre aprovação nas agências reguladoras e uso alternativo dos medicamentos. "Quando o remédio é aprovado, já descobriram outros três usos off-label", considera. "Mesmo assim, é necessário manter o rigor para aprovação dos medicamentos." Os médicos são livres para indicar quaisquer drogas, mas o SUS (Sistema Único de Saúde) só paga remédios prescritos para os fins aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O psiquiatra da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Marcelo Niel, acredita que, por isso, muitos pacientes deixam de receber remédios mais eficazes. Gattaz considera "possível" que, nas receitas, psiquiatras escondam o verdadeiro diagnóstico de alguns pacientes para garantir a gratuidade do tratamento. Ele recorda que, no fim da década de 70, quando o governo proibiu a internação de pacientes com neurose, aumentaram os diagnósticos de psicose reativa, medida motivada por "critérios administrativos". ATUALIZAÇÃO A pesquisa considerou dados coletados até junho de 2007 da FDA (Food and Drug Administration), agência responsável pela vigilância de medicamentos e alimentos nos Estados Unidos. Desde então, alguns usos off-label já foram aprovados. É o caso, por exemplo, do Seroquel, produzido originalmente pela AstraZeneca para tratar esquizofrenia. Segundo o estudo, cerca de 76% das prescrições do medicamento serviam para usos off-label, especialmente tratamento de transtorno bipolar. Hoje, o antigo uso off-label já foi aprovado pelo FDA e pela Anvisa. O Risperdal, da indústria farmacêutica Jansenn-Cilag, também era indicado apenas para esquizofrenia. Agora, a bula também traz indicação para transtorno bipolar. A Wyeth, responsável pelo Efexor XR, e a Pfizer, fabricante do Zoloft, sublinham que seus medicamentos são indicados para depressão e o uso off-label para transtorno bipolar não conta com o suporte das empresas.