Uso incorreto de colírio pode provocar glaucoma, alerta CRF/MS
O CRF/MS alerta que a falta de sintomas torna a situação ainda mais perigosa. Quando o problema é descoberto, costuma estar num estágio irreversível
Em um ano, a visão de um adolescente morador de São Paulo passou de perfeita para quase inexistente. Aos 13 anos, ele está praticamente cego. Só enxerga feixes de luz. A causa do problema não foi uma doença hereditária nem um acidente e sim, o uso contínuo de um colírio, vendido sem receita em uma farmácia.
Segundo a reportagem do jornal Estadão, o adolescente é uma de muitas vítimas que ficaram cegos ou com baixa visão após desenvolver um tipo de glaucoma causado pelo uso inadequado de produtos oftalmológicos com corticoide.
A falta de controle sobre a comercialização desse tipo de produto é alvo de críticas de entidades médicas. A Sociedade Brasileira de Glaucoma editou um consenso classificando esse tipo de glaucoma como o mais comum entre aqueles de causa conhecida e, portanto, o mais evitável.
O uso sem prescrição médica e indicação do farmacêutico pode representar um grave problema à saúde. O diretor do CRF/MS, Adam Macedo Adami, explica que quando usado por anos, o corticoide provoca danos na estrutura do olho que levam ao aumento da pressão ocular, o que pode causar cegueira.
"Nesta época do ano começa a temporada de seca e baixa umidade do ar, devemos ter cuidados redobrado, pois aumenta muito a incidência de casos de conjuntivite, e as pessoas precisam estar mais atentas a higiene das mãos e a lubrificação ocular e principalmente, jamais devem se automedicar ou usar colírios por conta própria. Jamais use colírios sem receita médica ou sem a orientação de um farmacêutico", frisa Adam.
Foi o que aconteceu com o adolescente da reportagem. “Em 2008, ele teve uma conjuntivite alérgica e o médico nos receitou um colírio com corticoide. Depois, todas as vezes que ele voltou a ter essa mesma alergia nem voltei ao médico, já passava na farmácia e comprava. O médico não nos alertou do perigo. Se a farmácia exigisse receita, com certeza isso não teria acontecido”, conta o comerciante de 36 anos, pai do paciente.
O adolescente fez uso contínuo do colírio por quase quatro anos, até começar a apresentar problemas de visão. “Achei que ele precisasse de óculos. Só depois descobrimos o problema e já estava grave”, comenta o pai.
O CRF/MS alerta que a falta de sintomas torna a situação ainda mais perigosa. Quando o problema é descoberto, costuma estar num estágio irreversível.
Regulação - Presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma, Francisco Eduardo Lopes Lima diz que a entidade já protocolou, sem sucesso, duas solicitações de regulação da venda desses produtos à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A sociedade defende que a retenção da receita médica seja obrigatória.
“A primeira solicitação foi feita em 2011 e ficou sem retorno. A segunda foi protocolada em 2013 e recebeu como resposta uma explicação sobre outro assunto. A impressão é que eles nem leram nosso pedido. É um total descaso”, diz ele.
Em nota, a Anvisa afirmou ao Estado que “todas as demandas referentes ao controle de medicamentos estão sendo tratadas em um grupo coordenado pela agência que avalia formas para fazer com que, no Brasil, a prescrição médica seja, de fato, respeitada”. A agência diz que “não adianta tratar cada medicamento de forma individual”, mas garantir que a receita seja exigida pelas farmácias.
Para Lima, alguns medicamentos com efeitos colaterais graves devem ser tratados de maneira individual. “Assim como passaram a exigir retenção de receita para antibióticos, o mesmo deveria ocorrer com os colírios com corticoide.”