Conselho Regional de Farmácia

De Mato Grosso do Sul

Farmacêutica sul-mato-grossense patenteou um peptídeo capaz de atuar contra células tumorais

A farmacêutica, Layza Sá Rocha, doutoranda em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), se tornou referência no desenvolvimento de moléculas inovadoras ao patentear o peptídeo KW18, capaz de atuar contra células tumorais e infecções oportunistas. Um grande reconhecimento para Mato Grosso do Sul.

Graduada em Farmácia pela UFMS em 2014, Layza construiu uma trajetória marcada pela atuação em diferentes áreas da farmácia: comunitária, hospitalar e clínica, onde aprimorou a prática com foco em segurança do paciente, farmacovigilância e assistência clínica. Teve experiências marcantes em hospitais, drogarias e também como professora universitária. “Sempre tive a convicção de que queria ser farmacêutica para impactar positivamente a vida das pessoas”, conta. O desejo de contribuir de maneira ainda mais significativa a levou a ingressar no doutorado, com foco no desenvolvimento de novos medicamentos.

Durante sua pesquisa bibliográfica, um dado da Organização Mundial da Saúde (OMS), chamou sua atenção: embora o melanoma tenha baixa incidência, apresenta alta mortalidade. “Isso coincidiu com uma vivência pessoal: minha madrinha enfrentava constantes infecções durante o tratamento oncológico, o que interrompia seus ciclos de quimioterapia. Quis criar uma solução que combatesse o câncer e prevenisse essas infecções”, explica Layza. Assim nasceu a ideia do peptídeo KW18.

O maior desafio de sua trajetória foi migrar da farmácia clínica e hospitalar para a bioinformática aplicada ao design molecular. “Foi como começar do zero, precisei aprender do início, desenvolver competências em modelagem computacional, simulações moleculares e desenho racional de peptídeos. Foram anos de estudo intenso, noites e fins de semana dedicados à leitura e prática. Esse processo me ensinou resiliência e me transformou em pesquisadora”, afirmou.

Ela explicou que sua descoberta é um peptídeo sintético, uma molécula inédita e multifuncional projetado inteiramente por ferramentas computacionais, sem derivação de sequências naturais. O diferencial está na combinação, em uma única molécula, de atividade anticancerígena e antimicrobiana. Além disso, a estrutura apresenta alta seletividade por células tumorais e bactérias, baixa toxicidade em células saudáveis e estabilidade em condições extremas de pH. Os ensaios comprovaram ainda eficácia contra biofilmes resistentes e sinergia com medicamentos já utilizados, como ciprofloxacino e anfotericina, potencializando tratamentos.

Segundo Layza, a descoberta pode transformar o tratamento de doenças complexas. Na oncologia, especialmente no melanoma, a molécula pode representar terapias mais eficazes, com menos efeitos colaterais, acelerando as respostas clínicas. Já na infectologia, surge como um aliado contra patógenos multirresistentes. Para a ciência, o avanço abre portas para novas estratégias de design molecular, integrando oncologia e microbiologia.

Seu trabalho já rendeu destaque nacional. A pesquisa foi reconhecida em reportagem oficial da CAPES como uma das iniciativas brasileiras inovadoras no combate ao câncer e às infecções resistentes. Ela destaca: “Esse reconhecimento mostrou que nossa pesquisa vai além do laboratório e já inspira a comunidade científica”.

Ela também contou sobre o caminho até o registro da patente, conduzido em conjunto com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). “Foi um processo longo, técnico e minucioso. Iniciamos em novembro de 2024 e, após revisões e pareceres, em outubro de 2025 tivemos a confirmação oficial do INPI. Esse percurso não só consolidou a inovação da pesquisa, como também marcou meu amadurecimento científico e profissional”, destacou Layza.

A confirmação da patente foi, para ela, um sonho de infância realizado, um momento emocionante. “Menos de 2% dos doutorandos no Brasil chegam a esse nível de inovação. Foi um marco para o meu doutorado e para minha carreira. Lembro de quando usava o jaleco do meu padrinho, o farmacêutico Horácio Rocha, e dizia que queria mudar vidas. Hoje, vejo aquela menina realizada como pesquisadora, mas ainda movida pelo mesmo propósito. Esse reconhecimento também é dos meus pais, Augusto e Erzilene, que sempre me ensinaram o valor da educação e fizeram muitos sacrifícios para eu chegar até aqui.”

O Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso do Sul (CRF-MS) parabeniza a doutoranda Layza Sá Rocha por essa conquista que orgulha toda a categoria farmacêutica.